Literalismo deplorável Laércio Jurandir Bruni* Era grande a expectativa em relação ao voto do mais novo ministro do Supremo sobre a Leida Ficha Limpa. Seguiu-se, após o seu voto, uma grande decepção. Pensei: como faz falta o conhecimento da filosofia! Os togados deram uma demonstração de ignorância que não é exclusividade de analfabetos. São conhecedores das leis e aplicadores fanáticos das mesmas, não se perguntando sobre o seu peso, procedência e fundamento. São fanáticos aplicadores de leis que não se inspiraram na Ética, isto é, nos princípios e valores das sociedades civilizadas. Todas as prescrições do Direito devem vir atreladas a valores, princípios e ordenamentos que tornam possível o convívio civilizado das sociedades. O literalismo na interpretação e aplicação das leis é algo deplorável e deve ser |
combatido. "A letra mata, o espírito é vivifica". As relações humanas, a organização do Estado, a propriedade, o comércio, enfim, todos os segmentos da atividade humana, exigiram desde os primórdios da humanidade que normas éticas fossem codificadas, transformando-se em leis.Temos então uma série de códigos, como o de Ur-Namur (2.050 a.C.), de Bilalama (1.950 a.C.), as leis medo-assírias, o código dos Hititas também do segundo século a.C., e o mais célebre de todos, o código de Hamurabi, cuja influência é notável nos códigos de outros povos, inclusive na chamada lei mosaica, como podemos ler no Deuteronômio. A civilização grega, dando um salto à frente de todas as outras, nos brindou com os Apotegmas dos Sete Sábios e o aparecimento de grandes filósofos como Pitágoras, Focílides, Sólon e, sobretudo, os tres maiores: Sócrates, Platão e Aristóteles. Contentemo-nos com Sócrates, que coloca a Ética no centro da sua Filosofia. Diz ele que o autoconhecimento é fruto do bem pensar que, por sua vez, leva ao bem viver e agir. Reconhece uma lei natural, não escrita (agrafoi nomoi), qual voz interior da consciência e que independe do livre arbítrio. Suas imposições são cogentes, isto é, racionalmente obrigatórias. |
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